sábado, 21 de setembro de 2013

Français Authentique: Uma nova maneira de aprender línguas estrangeiras


Gostaria de falar sobre um novo método de aprendizagem de línguas estrangeiras com que tive contato, do qual posso dizer que tenho colhido seus benefícios.



 Ele essencialmente começa com um problema que eu sempre tive desde o dia que eu comecei a estudar uma nova língua por achar isso importante. Quando comecei a por em prática meus estudos, apenas me reportei ao método que sempre tive na escola, ou pelo menos devia ter: livros, lições de gramática, conjugação de verbos, traduções de texto a serem corrigidos, regras de ortografia etc. Por não conhecer nada de diferente, considerava que fazendo tudo aquilo garantiria um bom aprendizado.

Gasto de tempo e energia sem colher frutos é um dos maiores desestimulantes que existem e, portanto, meio caminho andado para o fracasso. Tentei aprender inglês desse jeito, durante um ano. Apesar de seguir religiosamente um pesado plano de aprendizado baseado nos métodos já apresentados, não conseguia sequer ler textos básicos de internet na língua inglesa, e muito menos compreender qualquer áudio por mais simples que fosse. Ainda hoje meus conhecimentos em inglês são sofríveis.

Apesar de todas essas dificuldades, segui meu aprendizado, pois passei a considera-lo fundamental, e acreditava que com perseverança conseguiria. Começaram a surgir oportunidades, agora em francês. Cheguei a fazer um pequeno curso, tive contato com métodos que presavam mais a audição, mas ainda sim não conseguia ter segurança em dizer que de fato compreendia francês. Essa falta de confiança se tornou um desestímulo, e parei de aprender.

Foi então por acaso que descobri na internet um grupo chamado Français Authentique©, através das chamadas “Sete Regras”. Consistem em sete conselhos de como melhorar o aprendizado da língua francesa de acordo com as experiências de seu criador. Comecei a ouvir a 1ª regra de forma desinteressada. Chamaram-me atenção duas coisas: a primeira, apesar de o texto e o áudio estarem totalmente em francês, conseguir compreender muito bem a mensagem; a segunda foi o próprio conteúdo da regra, resumida na frase: NÃO ESTUDE GRAMÁTICA, NÃO VÁ A UM CURSO DE FRANCÊS!

Claro que essa frase foi de um impacto muito forte, e especialmente me chamou atenção, pelos motivos acima expostos. Obviamente ele não quis ser totalitário nesse pensamento, afinal admite que é essencial no começo ter um contanto com a língua que se quer aprender em um curso, para se construir uma base sólida; também conhecimentos de gramática são importantes. O que ele tenta combater é a ideia errônea de vincular o aprendizado de uma língua estrangeira (o inglês e alemão no caso dele, o francês no meu caso) ao aprendizado daqueles tão só dois elementos.

Não é por saber de regras de futebol que alguém se torna jogador de futebol, diz ele mais ou menos assim. Tal como nós aprendemos nossa língua materna aos poucos, primeiro ouvindo, reconhecendo sons, depois tentando as primeiras palavras, errando, aprendendo cada vez mais, assim deveria ser nosso aprendizado de outras línguas. Por isso, ele defende o que ele chama de um método de aprendizagem natural.

Por um meio fácil e estimulante, baseado em ESCUTAR mensagens na língua que se quer aprender (textos, diálogos, e, especialmente, histórias), qualquer um pode, de forma automática, autêntica e sem esforço desnecessário, ganhar vocabulário, treinar o ouvido para o idioma, e assimilar a gramática naturalmente.

Além disso, para fixar o vocabulário, é necessário repetição, tantas vezes quanto forem necessárias para atingir esse objetivo. Isso pode ser feito utilizando a tecnologia do MP3, que permite ouvir um áudio quantas vezes o usuário quiser, de forma prática, em qualquer lugar, principalmente nos momentos diários que são considerados tempo perdido (ex: filas, ida e volta da escola etc.)

Assim, em linhas gerais, sua proposta de método me pareceu muito convincente. Venho utilizando-a a mais de nove meses, e posso dizer, com a segurança que antigamente não tinha, que o método funciona. Posso ler textos na internet em francês sem dificuldades, tenho boa compreensão de áudios e vídeos totalmente em francês, além de melhora sensível na pronúncia e mais desembaraço ao tentar formular pensamentos e conversações em francês.

Em suma, mais que um método para aprender uma língua estrangeira, Français Authentique me permitiu um estudo estimulante, além de me dar confiança no meu aprendizado e em mim mesmo, o que obviamente dá excelentes frutos.

Recomendo o contato pessoal com esse método a todos.

Link:
Site Français Authentique

"Apprenez à Parler Français". E-book disponibilizado gratuitamente, em francês, que fala sobre o método.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Green Beret: Aprendizado para "cegos" - TEXTO (07.12.2011)

Green Beret: um aprendizado para “cegos”
Jefferson Rocha

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento da internet é fenomenal. No que pese alguns aspectos negativos que encontro nela e que eu arrazoei em textos passados desse blog, é indiscutível que a janela de que esse instrumento é substancialmente dotado abre para um horizonte de possibilidades boas e instrutivas. Confesso que não sei o que seria de mim hoje sem a internet. Melhor talvez (não tiro essa possibilidade...); entretanto, o sentimento de querer usar da melhor forma possível aquilo que Deus me proporcionou – pois acredito nisso – me fez tomar algumas atitudes usando a internet, no qual aprendi muito.
Falarei de uma delas. Talvez a mais importante da minha vida. No auge do Orkut (lembre-se de que, apesar de ora antiquado, não faz muito tempo), criei um fake. Na linguagem da internet chama-se fake aquele perfil (no caso do Orkut; não sei como se chama em outras redes sociais) de uma pessoa que de fato não existe, ou – de forma menos honrosa – pessoas que se fazem por outras. Esse fake se chamava Green Beret. Com ele, pretendia aprender línguas estrangeiras, e também ensiná-las, através do diálogo com outras pessoas, e também compartilhamento de informações de como estudar línguas estrangeiras.
Escrevo esse texto por alguns motivos, sobretudo pela oportunidade da data. Em 24 de novembro deste ano, Green Beret completou cinco anos de criação. Mas o que mais me leva a escrever esse texto é começar uma discussão sobre como as escolas e os próprios alunos podem contribuir de forma efetiva para o aprendizado de línguas estrangeiras, e como poderiam ser estimulados a tanto, principalmente em um meio em que o seu conhecimento seja tão desconsiderado. Quero apenas levantar questões, pois não tenho o menor conhecimento de Pedagogia ou didáticas para o ensino; falarei apenas como alguém que tentou experienciar alguma coisa sobre ensinar e aprender línguas.
At least but not last, quero colocar uma pergunta para a leitura do texto: pode um cego guiar outro cego por um caminho?
Permita-me o leitor a começar minhas divagações.

I

Green Beret foi criado no dia 24 de novembro de 2006.  Havia algum tempo que tinha criado um Orkut pessoal, no qual, quem me conhece, sabe perfeitamente que lá não era muito usado. Poucos adicionados, menos ainda mensagens.
Na época, quando apareceu a oportunidade na internet, tive acesso a um curso de alemão. É, alemão mesmo! Sempre fui fascinado pela história da Segunda Guerra Mundial, e também da reconstrução do povo alemão após esse capítulo peculiar e triste da História. Dessa forma, tinha interesse em aprender uma língua nova. O curso é excelente: é um curso por rádio, em que o site disponibilizava apostilas e o áudio, e era uma história. Ao contar das histórias, divididas em episódios, havia a oportunidade de nos familiarizarmos com o som do idioma (algo fundamental no aprendizado), além de elementos da linguagem, gramática e cultura da Alemanha. Foi o primeiro curso de línguas que peguei na vida, e talvez não o aproveitei como deveria .
Talvez? Não sei hoje nenhuma palavra em alemão; entretanto, sei elementos básicos, que não passam; é a velha alegoria da bicicleta: depois que aprende, não se esquece mais. Mas o fato é que estava muito bem aprendendo; mas não fixava o idioma. Por quê?
Claro, pois não o praticava com ninguém (nem o português, aliás...). Pode parecer bem óbvio hoje, mas na época não sabia como aprender uma nova língua como deve de fato ser aprendido. Não que eu me gabe que hoje saiba, mas naquela época, sabia bem, bem menos.
Que fazer, então? Procurar alguém com quem dialogar alemão seria a primeira opção. Mas com quem diabos? Quem tem sequer o interesse de aprender alemão? Até hoje não encontrei esse indivíduo. A opção que sobrou foi a seguinte: criar um novo Orkut, e usar ele para dialogar alemão comigo mesmo!
Só podia ser coisa de antissocial mesmo... Mas era a opção que tinha. Criei então um e-mail e, logo após, um novo perfil no Orkut: “GB – Deutsch”. Seu nome “real”: não sei. Seu apelido: Green Beret.

II

E de onde eu tirei esse nome? Em tradução livre, seria “Boina Verde”.
Bem, eu fui criança, e meu passado me condena mesmo!
Ainda que nós em casa não tivéssemos um computador de última linha, e acesso a todos os jogos que quiséssemos em versão completa, eu e meu irmão éramos bastante felizes com os “jogos-demonstração” que tínhamos. Um deles se chama Commandos: Beyond the Call of Duty. É um jogo de estratégia militar, excelente por sinal. Consistia no uso de seis personagens, aos quais era dada uma tarefa militar durante a Segunda Guerra Mundial, contra alemães. Não me delongando mais, o principal personagem desses seis chama-se Green Beret. Daí, sem muita criatividade, resolvi colocar esse nome.
As características do fake Green Beret são as seguintes: ele é um policial alemão, de 23 a 25 anos, morando em Frankfurt, que – por acaso – entra em contato com brasileiros para aprender português, e, consequentemente, ensinar, pelo diálogo, outras línguas.
Vamos recapitular: um fake, com um nome inglês, inspirado num assassino de nazistas, era alemão, policial, e tinha interesse em aprender línguas estrangeiras, e ensiná-las, e justamente para brasileiros. E, vendo os poucos adicionados que tinha, quase todos justamente de uma cidade do interior do Maranhão, e boa parcela de uma única escola. Muito estranho, ou algo fundado ao fracasso?...

III

Ambos.
Apesar da história de Green Beret ser algo tão sem criatividade, foi o que menos pesou para os seus relacionamentos, pelo menos num primeiro momento.
Vendo que minhas conversas monótonas em alemão com esse fake, por motivos óbvios, não funcionavam, resolvi desistir do intento. Mas, para minha surpresa, pessoas da minha escola, que jamais tinham falado comigo, interessavam-se em adicionar um alemão para com quem dialogar em outra língua. Não em alemão, eu digo; mas, principalmente, o inglês.
Foi uma alegria muito grande falar com esse pessoal. GB teve adicionados que nunca tive sequer em meu perfil pessoal. Apesar de origem totalmente discutível, muitas pessoas adicionavam por curiosidade.  Muitas, disse? Não, não muitas, diria... GB, nos primeiros momentos, não teve mais que sete adicionados. Mas para alguém desconhecido, que usava o Orkut para alguma coisa útil (o que é raro em sede de redes sociais...), isso é muito, não concorda?
O alemão, pelo desuso, foi deixado por mim aos poucos. A bandeira da Alemanha sempre foi a imagem de perfil de Green Beret. Mas o inglês sempre foi o predominante. Isso era apenas o começo.

IV

Por algum tempo GB ficou apenas nos cumprimentos, e nada mais. Mas claramente GB começou a funcionar de verdade com as conversas de Tales de Mileto (obviamente, usarei nomes fictícios). Esse era um menino muito inteligente, e era muito simpático, o que nos proporcionou muitas boas conversas em inglês.
A nossa mais longa troca de mensagens (permita-me usar a primeira pessoa) durou mais de seis meses. Cada mensagem era esperada ansiosamente. Aprendíamos muito, de verdade.
Pena que, dessas melhores mensagens de GB, poucas ficaram, pois ele excluiu seu perfil no Orkut, apagando todas elas. Mas, bem no começo, ainda tenho alguns fragmentos de respostas que dei a ele sobre algumas questões. Trago uma sobre a história familiar do GB; acho importante colocá-la para o leitor ter noção de como eram nossas conversas. Eis-a:

OK. I’ll tell my history below:
In the times of Cold War, Germany was divided in West Germany (FRG) and East Germany (GDR). My father lived in West Germany and my mother lived in East Germany. With the division, they had been separate geographically, but your hearts don’t. Therefore, they went to Spain and married in there. 2 years later, I was born in Madrid. When I had 5 years old, we come back to Germany, because the Berlin Wall was destroyed. When I grew and I finished the studies, I was in doubt between to be a policeman, my dream, or to be a teacher of German language in Spain, which the salary was high. I decided, then, to be a Policeman in Germany, but I would help young people by Internet to study German. Later, I started to learn and to teach other languages, as the English, for example. When I meet you and my other Orkut’s friend in Brazil.
And now, speak about yourself.
P.S.: And, by the way, Merry Christmas for you!
Bye,
Green Beret.

Desculpe-me pelos eventuais erros de escrita do inglês, e muito mais ainda a série de coisas inacreditáveis que tive que inventar para tonar GB interessante. Mas – percebam - era assim que era as comunicações do GB. Pesquisando termos no dicionário, usando termos que tínhamos aprendido em estudo... Era assim: um diálogo em que ambos errávamos muito, mas que aprendíamos muito, e colocávamos em prática coisas novas.
Essas conversas com Tales de Mileto me estimularam a desistir da quimera do alemão e entrar no inglês. Estudar pra valer mesmo! De janeiro do ano de 2008 (meu último ano de Ensino Médio) até o fim, ainda que tivesse que estudar para o ENEM, fui fiel à minha sagrada hora de estudo de inglês, para manter as conversas não só com Tales de Mileto, mas também com outros e outros com o qual dialogava em inglês.

V

Todavia, houve empecilhos que foram, infelizmente, além do natural sacrifício.
Eu vim de um curso de alemão que não me ajudava bastante, e entrei num ensino de inglês que me ajudava menos ainda. Basicamente, meu estudo de inglês resumia-se apenas ao meu livro de inglês, e algumas miseráveis ajudas. Meu ensino de língua inglesa foi algo deficiente. Muito poucos são os que se interessavam em aprender algo diferente, novo, em nossa cidade, circunstância que, infelizmente, passa para a nossa escola, por mais que ela se esforce em muitas ocasiões em tentar fazer o contrário. Soube que Tales de Mileto tinha todo o apoio para o aprendizado da língua inglesa, mas o mesmo não se deu comigo. Talvez porque ele fosse da então sétima série (hoje oitavo ano), e eu, um perdido aluno do terceiro ano do Ensino Médio. Nossas aulas de inglês sempre foram sofríveis, mas a condição piorou nos últimos anos do Ensino Médio.
Não estou dizendo essas coisas por rancor. Acreditem! Mesmo porque, se não houvesse GB, talvez passaria por despercebido, pois nunca tivera interesse de aprender uma língua nova. Mas a partir do momento que comecei a ter interesse, tanto quanto Tales de Mileto, não fui ajudado. “Ah, talvez se ele tivesse insistido, ele teria conseguido essa ajuda!”, poderá dizer alguém. Mas, acreditem, as circunstâncias específicas da minha classe e com o responsável pelo ensino não permitiam, pois ninguém queria um aprendizado com eu e Tales de Mileto queríamos, no caso. Ele, que também teve colegas que o acompanhavam, teve apoio; eu, numa classe como aquela, fiquei sobrando.
Não quero suscitar picuinhas com essas afirmações; mas quero lembrar que não se pode exigir que uma pequena brasa surgida quase que do nada se transforme numa fogueira, que ilumina a todos, se não lhe derem palha. Deixo claro que não são mágoas pessoais o que aqui derramo, mas o sincero desejo de que outras pessoas, com igual potencial, não se percam na proporção que está. Uma palavra que seja ajuda bastante. A educação, no geral, está sofrendo esse problema, e quem mais peca são os que assumiram o dever e a responsabilidade de fazer seus pupilos crescerem: os professores.
Precisou que um cego levasse o outro cego, pois os que viam cruzaram os braços.

VI

Com quem conversava, procurava animá-lo a estudar inglês e a praticá-lo.
Claro que sempre houve quem usasse o Google Translator para escrever suas mensagens, mas fazia parte. Normalmente, quem utilizava desses meios nunca sabia estabelecer uma boa conversação. Com Anaxágoras, eu pude notar isso no começo; mas aos poucos, notei dele um esforço maior em utilizar um vocabulário melhor e próprio.
O esforço dele era sempre muito recompensador. E isso reforça minha opinião de que a prática é bastante necessária; mas não basta ela apenas: o esforço e o incentivo para tal é de extrema importância. Talvez se eu pessoalmente fosse mais sociável, o resultado poderia ter sido melhor.
A gama de assuntos era bastante reduzida, e ficava apenas nas poucas coisas que podia observar do perfil da outra pessoa. Tendo atenção às coisas favoritas dela, fazia perguntas, e sobre coisas do seu cotidiano eles falavam.

VII

Por mais que houvesse o natural desgaste, Green Beret acabou por motivos mais pessoais. Pude notar que aos poucos as pessoas iam conhecendo a verdadeira identidade do policial alemão, e com isso o entusiasmo para continuar um diálogo foi paulatinamente acabando. Fiquei bem triste por saber que muitos adicionavam GB não mais pelo estímulo que recebiam, mas para tentar desprestigiar sua atuação.
Nessa pequena experiência, pode conhecer uma minúscula parte do dilema do professor – pelo menos daqueles que querem o bem para seus alunos. Confesso que usei GB muitas vezes para alertar os adicionados para alguns comportamentos estranhos que apresentavam na rede social. Exemplos são o fato de conversas a quase todo o momento com pessoas visivelmente suspeitas (o leitor deve arrazoar que, muito embora GB também não fosse lá uma coisa isenta de suspeita, pelo menos tinha um objetivo que o levava em boa conta...), uso de frases totalmente impróprias, fotos chocantes (inclusive só de cueca, com fins de puro exibicionismo). Fora isso, também dava uma de “psicólogo” em alguns momentos ruins pelo qual os adicionados passavam. Também exortava muito as pessoas usando os chamados “depoimentos”, que hoje confesso que, em sua maioria, foram melosos e desconectados do sentido que propus inicialmente para Green Beret.
Agi de forma normal ou fui intrometido? Bem, não posso fugir dos problemas alheios; mas acho que tive um pouco de intrometido. Ou pelo menos, quando o fui, não tive os resultados que esperava obter. Por isso o dilema do professor.
Sócrates vangloriava-se de ter tido uma mãe que era parteira. Ele dizia que, de certa forma, herdou esse ofício da mãe, o que passou para o seu modo de filosofar e interagir com seus discípulos: as ideias vinham deles próprios, através de seu processo dialético e ironia socrática, formando-se as ideias naturalmente, tal como num parto; ele – como uma parteira – estaria apenas para assegurar que nada sairia errado.
Por mais que queira, por mais que tenha carinho, um professor não pode invadir a liberdade do aluno. Nem o próprio Cristo se atreveu a fazer isso (Quando dizia: “quem tem ouvidos, ouça!”, ou no uso das parábolas). É frustrante, mas é a única saída. “O homem está condenado a ser livre”, disse Sartre.
Pequei nesse aspecto, e nada recebi em troca. Não é a toa que GB acabou.

CONCLUSÃO

Confesso que, quando estava planejando este texto, intentava escrever sobre quase todas as experiências que, com o perfil do alemão, tive – mesmo as mais pessoais. Cortei muitas partes totalmente sem sentido, pois estaria cometendo o mesmo erro que fiz com Green Beret todo esse período: no afã de ajudar as pessoas, acabei não ajudando em nada.
Quero concluir este texto de forma mais nobre. Primeiramente, não aconselho a ninguém criar um fake. Olhe... Há tantas formas de se expressar, principalmente agora nessas redes sociais! Se o leitor quer usar uma rede social para algum fim, seja um projeto, um protesto, ou falar algo que você quer dizer, faça em nome próprio! Mas que isso não seja empecilho para não falar o que você acha: elabore-o e o faça de maneira que os outros recebam de maneira satisfatória; em suma, prefira a criatividade e a coragem a facilidade de  expressar de forma falsa. Sinceramente, não vale a pena!
De resto, retomo ao mesmo ponto passado: não tive um ensino satisfatório de língua inglesa. E sabe por quê? Porque não havia motivo para tanto! Numa cidade no meio do nada, não há o porquê de perder tempo diário no estudo de algo que não se tem a menor perspectiva de uso num futuro. Falso pensamento! Além do uso das línguas estrangeiras que a globalização vem a cada dia exigindo, e que, dia ou menos dia, vai chegar onde estamos, vai ser cobrada no mercado de trabalho, também temos que atentar para o fato que eu claramente pude perceber no meu humilde aprendizado: ao aprender uma língua nova, a mente parece se abrir! Sim, pelo menos aconteceu comigo: a mente fica mais aberta para captar conhecimento e atentar para a cultura de outros povos, facilitando a nossa integração dentro deste mundo cada vez mais unido em meios de comunicação, mas cada vez com mais distâncias pela alienação que seu uso desavisado nos traz. Não é uma questão de querer ser melhor que os outros, mas de necessidade mesmo!
Concluo respondendo a pergunta que fiz no começo. Precisou sim que um cego guiasse outros cegos pelo caminho. Mas quando esses dois cegos se metem a andar esse caminho, percebem – para sua surpresa – que não são cegos: apenas não podem ver com clareza onde estão. Mas a medida que andam, ainda que com dificuldade, por certo encontrarão algum rastro de luz. E a despeito dos que ficaram, avançam, e encontram a luz, e se alegram. Fica o meu profundo desejo de que quem ainda se acha cego, comece a andar para que veja; e os que já viram essa luz, tenham a coragem de anunciar aos outros como é bom vê-la.
Obrigado, Senhor, pela oportunidade que me deu.

Novembro e Dezembro de 2011.

sábado, 11 de junho de 2011

Vivificar a educação (11.06.2011) TEXTO

Vivificar a educação
Jefferson Rocha

Há algumas semanas, venho acompanhando acontecimentos que mostram um pouco da realidade da educação em nosso país. Todos nós sabemos que a situação do ensino público de nosso país é bastante precária; porém, a nossa ação perante o assunto é de apenas perplexidade, sem nenhum compromisso com a efetiva mudança.

Há algumas semanas, o Jornal Nacional mostrou em sua série de reportagens  JN no Ar – Blitz da Educação a situação da educação do país, escolhendo uma cidade de cada região para serem visitadas duas escolas: a de maior e de menor Ideb, que é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica.

As diferenças, em todas as regiões, são visíveis entre as duas escolas, que apesar de geograficamente perto uma da outra, têm realidades completamente diferentes. Em geral, constata-se que a de maior Ideb é uma escola melhor cuidada pelos professores, alunos e diretores; os alunos estão na série que deveriam estar, levando em conta sua idade; há a participação dos pais, e seu acompanhamento e cobrança; há projetos de leitura; os professores ganham bem, e –se não – nota-se em todos eles o desejo de ensinar. As de pior Ideb são o contrário das outras nessas características.

Um exemplo, porém, chamou atenção. Foi a cidade de Goiânia, representando a região Centro-Oeste. Nela foram visitadas as escolas com o maior e o pior Ideb de toda a série de reportagens.  Porém, houve uma surpresa: a escola de pior Ideb tinha uma boa estrutura, e os professores ganhavam um salário relativamente maior que o da outra escola. Mas o que o especialista constatou é que nessa escola, além de seu problema com a indisciplina dos alunos, há “uma aceitação do fracasso”, tentando “empurrar com a barriga” os estudos. “A gente nota que a escola não tem uma indignação, não está preocupada em resolver esse problema que é crucial da alfabetização na idade certa. Isso acaba gerando indisciplina.” Porém, a escola de maior Ideb (7,1 numa escala de 0 a 10) não tinha uma boa estrutura, e os salários dos professores não eram chamativos. Antes da atual diretora assumir, a prefeitura previa que a escola seria fechada, pelo reduzido número de alunos e péssimos resultados. Entretanto, ela conseguiu virar o jogo: com o uso da concentração, comprometimento e entusiasmo com os alunos, a escola chegou ao nível que chegou, comparada hoje pelo MEC como no nível das de países desenvolvidos.

O relato da professora Amanda Gurgel correu a internet, mostrando apenas uma face do problema, que é a situação com o descaso do governo para com os profissionais da educação. Ela também acusa que quem deveria ter uma certa vigilância para o que está acontecendo fecha os olhos para a verdadeira injustiça que acontece todos os dias, que só chegam a ter relevância em período de greves.

O artigo 205 da nossa Constituição estabelece que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família, será incentivada pela sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o mercado de trabalho. As aplicações práticas disso são muito limitadas, pois se de um lado há um descaso do Estado e da família em sua tarefa de tornar plena a educação daqueles que estão aprendendo numa instituição pública quase falida, também encontramos uma série de escola em que o objetivo não é esse desenvolvimento pleno e exercício da cidadania, mas que o compromisso é tão somente jogar conteúdos e mais conteúdos na cabeça dos alunos, preparando-os das formas mais ridículas possíveis, transformando o “passar em vestibular” em objetivo de vida, quando na verdade ele é um simples meio.

Com todo respeito aos professores, que estão todos os dias nos recintos educacionais, que estão todos os dias vendo o problema de perto e sentindo-o até, tendo eles mais autoridade do que eu para falar sobre o assunto, vejo que o problema da educação é não se preocupar com a sua forma integral; formar não o médico, o jurista, o engenheiro, mas formar a pessoa, formar o cidadão.

A qualidade da educação, como diz a professora, não pode ser associada a colocar professor dentro de sala de aula. Vou além em dizer que também não são só escolas com boa infraestrutura, porque em qualquer um dos casos há o perigo de se ter as escolas como “depósitos de crianças”, um lugar onde os pais depositam as crianças por causa do trabalho, pois essa é a verdadeira preocupação do Estado em períodos de greve.

Além de tudo isso, o Ministério da Educação coloca a disposição livros em que erros gramaticais são vistos como normais, e fala de um tal “preconceito linguístico”. Isso provavelmente vem de uma ideologia incompreensível, que sinceramente não tem resultados práticos. Perguntem isso ao povo do Japão e da Coreia do Sul, que hoje são o que são por investir naquilo que é o essencial para o desenvolvimento do país, que é a educação. E isso a base de disciplina no ensino. Alexandre Garcia, comentarista do Bom Dia Brasil da Globo, compara que, por esses dias, foi preso o presidente do FMI, com o uso de algemas e tudo. E aqui no Brasil, o uso de algemas é limitado, pelo “constrangimento que isso pode causar”. Acho que num caso e no outro, quem realmente vai desenvolver esse “trauma horroroso” são aqueles que podem pagar um bom tratamento psicológico, pois que a maioria da população está sim sujeita a esse “preconceito” e a esse “constrangimento”, independentemente de limitações. O que se quer é nivelar por baixo os alunos, e se for assim, seria melhor fechar todas as escolas, pois a educação aí não pode resolver nada.

Os estudantes precisam conhecer os bons efeitos de uma boa educação. E isso não é difícil, quando há o verdadeiro comprometimento de quem lida com isso todos os dias. A edição da revista Veja de 18 de maio de 2011 nos faz ter alguma esperança, principalmente na área do desenvolvimento educacional que mais revolucionou minha vida: a leitura. Na matéria especial, vemos alguns exemplos de como o hábito da leitura não é um hábito que tende a acabar com a internet, como diversos autores profetizaram: isso tende a se renovar, de maneira especial com o surgimento dos tablets. Além disso, os exemplos retratam que jovens, com a nossa idade ou menos, aprenderam o gosto pela leitura da maneira mais natural possível: pelo que gosta. São muito criticados o que eu chamo de livros-mercadoria, que muitas vezes não tem um conteúdo muito bom e reflexivo, mas também se nota que incutir Machado de Assis para quem não está preparado também não é a solução. A matéria mudou minha forma de ver esses livros, pois eles são sim um bom começo para aquele que realmente é levado a não se contentar com somente aquele tipo de leitura. Um exemplo é que muitos analistas previram que leitores de Harry Potter estariam condenados a serem leitores apenas de livros de Harry Potter. O tempo provou que eles estão errados, e pessoalmente sou exemplo disso, pois que apesar de nunca ter lido Harry Potter, foi a lleitura dessa obra por meu irmão que me incentivou para a leitura. Quem é bem assistido, pode ir se refinando para partir para leituras mais avançadas: De Harry Potter para Os Maias; de Crepúsculo para O Morro dos Ventos Uivantes e Crime e Castigo; D’A Cabana para Cem Anos de Solidão. E isso pessoalmente tenho sentido todos os dias.

É necessária uma renovação no desejo de querer ensinar aos alunos (para não serem mais a-lunos,” sem luz”), e também incutir neles o desejo de saber mais, não com o sentido egoísta de ser “o melhor”, mas de serem melhores pessoas, melhores cidadãos e pessoas que são foco de luz onde se encontram, em meio às trevas que vivemos.


11 de junho de 2011.

OBS: Site com as reportagens completas do JN no Ar - Blitz Educação (http://g1.globo.com/jornal-nacional/jnnoar.html)

sábado, 28 de maio de 2011

O maior amor do mundo (28.05.2011) TEXTO


O maior amor do mundo
Jefferson Rocha

Título bastante sugestivo. Pudera: um dos maiores temas da humanidade; não um problema sentido por todos de forma social, mas é uma pergunta quem vem a assaltar a várias pessoas em sua individualidade. Quem nós amamos mais? Será que amo a Deus como eu devia amar? Meu próximo, como mandou Jesus? Meu pai, minha mãe? As pessoas com quem convivemos? Aquela pessoa por quem estamos apaixonados? A nós mesmos?

Uma das classificações, diria uma das mais tradicionais, é dividir a concepção do amor em três, de acordo com a forma de se expressar dos gregos antigos: Eros seria o amor erótico, no sentido de atração física; Philos seria o amor fraternal; e agape o amor benevolente, de desejar o bem ao outro: o amor incondicional. Há importância em se saber o sentido dessas palavras, porque na própria Bíblia há um jogo delas na parte em que Jesus chama Pedro para “apascentar suas ovelhas”, quando Jesus pergunta-lhe se o amava (agape) e ele respondia que ele o amava (philos). Por fim, Pedro respondeu que o amava (agape).

Não gosto muito dessa forma de querer por numa fôrma ideias tão amplas, muito menos uma das maiores delas, que é o amor. Ainda mais levando em consideração apenas simples palavras. Bom lembrar também que o conceito de homem para os gregos não incluía os escravos.

As definições de amor são amplas, e confesso que não é meu objetivo dissertar sobre elas, nem fundar uma nova concepção. O que quero ressaltar é a forma com que fazemos comparações, e como isso implica nas nossas vidas no tocante à liberdade na nossa relação com Deus.

Eu procuro algumas vezes ter contato com histórias e dizeres de pessoas sábias, e que de alguma forma nos levam a melhorar como pessoa, e particularmente no meu caso, como cristão. Assim, tive contato com uma história bastante interessante.

São Jerônimo, para quem não conhece, é aquele que traduziu a Bíblia de suas escritas originais para o latim, conhecida como Vulgata, que é bastante tradicional para a Igreja Católica. Antes disso acontecer, Jerônimo passou 27 anos em uma gruta, conhecida como Gruta de Santa Catarina, logo abaixo da Gruta de Belém, onde - dizem - Jesus havia nascido. Era um rapaz que era rico, mas não tinha paz e queria ser verdadeiramente livre. Vivia de forma ascética; porém não tinha paz. E pedia sempre a Deus a felicidade, a paz... Mas sempre tinha a resposta: “Para isso, você tem que Me entregar aquilo que mais ama”. “O que mais, Senhor?” – perguntava Jerônimo – “Eu já dei tudo a vós! Minha vida, ela é sua; já dei as minhas roupas: me visto da forma mais simples possível; dei minha inteligência: não leio mais nada, a não ser obras que ajudem na minha missão; dei o meu corpo: faço jejum, consagrei minha sexualidade e pratico a castidade; abandonei minha família, deixei todos os meus bens, vivendo uma pobreza extrema... O que o Senhor que mais que eu faça?” “Quero que você me dê aquilo que você mais ama”, era a reposta. E sempre ele se perguntava aquilo que ele mais amava. Depois desses 27 anos, ele descobriu aquilo que mais amava, e entregou a Deus.

Seu pecado.

É uma verdade terrível, que pelo menos na minha vida fez um sentido imenso.

De forma gritante, vemos hoje àqueles que se dizem a procura de Deus. Se for de certas igrejas, aí que é gritante mesmo... Sempre naqueles velhos clichês: “Ah, Senhor! Restaura minha vida! Aleluia!” A pessoa pensa que existe um demônio na sua vida, que a destrói e manda fazer coisas que “ela não quer fazer”. Depois de um “show místico”, em que dizem encontrar e sentir o Espírito Santo, dizem que suas vidas foram restauradas. “Recebeu a promessa!”

Pode ser que esteja fazendo um mau julgamento, mas na verdade não é esse meu objetivo em expor clichês. O que eu quero enfatizar é que esse e eu procuramos aquilo que Jerônimo procurava naquela gruta: Paz e felicidade. E, a nossa maneira, “gritante” ou não, tentamos  –principalmente nós, cristãos - nos iludir que, por uma boa sensação que nós tivemos, nossa vida foi salva, tudo vai ser diferente daquele momento pra frente, e que vamos vencer. “Aleluia!

Pena que não é tão fácil assim; e o próprio Jesus assim nos ensina, quando pede para carregarmos a nossa cruz. Porém, devemos entregar tudo a Ele, e o mais assustador é que também devemos entregar esse amor que queremos esconder de nós mesmos: o amor pelo pecado. Confesso que a priori achei muito pesado utilizarem a palavra amor nesse contexto, nos termos que inicialmente comecei a colocar; mas infelizmente é nesse peso inteiro que deve ser demonstrada essa ideia. Que amor é esse? Será que é um amor maior do que pelas pessoas que convivemos? Do que por nossos pais? Do que por Deus? Enfim, do que por aquilo que nos é mais caro?

Cada um tem a mínima noção daquilo que faz pesar a sua cruz, e quer, tem vontade se livrar disso. Procura por todos os cantos uma forma de fazer isso... Tenta, tenta... Mas não consegue. Por quê? Ora, devemos analisar se não temos um profundo amor pelo nosso erro. O que será que eu fiz, e o que sou capaz de fazer por esse “amor”? Gastar dinheiro? Tempo precioso da minha vida? O meu próprio ser? Ou por em risco aquilo que quero colocar como mais sagrado em minha vida, embora não consiga?

Infelizmente constatei isso, que o pecado me ganha. Minha coragem é pouca. Eu tenho esse amor, que é “sem limites”, como o de Roberto Car... Ah, lembrei de uma piada cretina...

Um casal estava brigando:
-... Você reclama de bucho cheio! Meu amor por você é que nem o de Roberto Carlos por Maria Rita!
-Ah, é? Pois prove!
-Pois morra!


Voltando... Sim, é um amor sem limites... Que quer ver a gente “morta” no final.

Essa constatação, somente a própria pessoa é capaz de fazer, refletindo. Apesar de ser triste essa constatação, é aí que está a esperança. Vamos dar um passo importante para começarmos a ser livres, pois pelo menos diante de Deus, conversando sobre o nosso amor pelo pecado a Ele. Ao sermos francos com Ele, seremos com certeza conosco mesmo.

Entregando esse amor maior do mundo, possamos substituir por aquele Amor que é infinitamente maior que o próprio mundo, e possamos saber amar de fato aqueles que queremos amar, sendo livres e estando em paz.

Que Deus nos abençoe.



28 de Maio de 2011.