sábado, 11 de junho de 2011

Vivificar a educação (11.06.2011) TEXTO

Vivificar a educação
Jefferson Rocha

Há algumas semanas, venho acompanhando acontecimentos que mostram um pouco da realidade da educação em nosso país. Todos nós sabemos que a situação do ensino público de nosso país é bastante precária; porém, a nossa ação perante o assunto é de apenas perplexidade, sem nenhum compromisso com a efetiva mudança.

Há algumas semanas, o Jornal Nacional mostrou em sua série de reportagens  JN no Ar – Blitz da Educação a situação da educação do país, escolhendo uma cidade de cada região para serem visitadas duas escolas: a de maior e de menor Ideb, que é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica.

As diferenças, em todas as regiões, são visíveis entre as duas escolas, que apesar de geograficamente perto uma da outra, têm realidades completamente diferentes. Em geral, constata-se que a de maior Ideb é uma escola melhor cuidada pelos professores, alunos e diretores; os alunos estão na série que deveriam estar, levando em conta sua idade; há a participação dos pais, e seu acompanhamento e cobrança; há projetos de leitura; os professores ganham bem, e –se não – nota-se em todos eles o desejo de ensinar. As de pior Ideb são o contrário das outras nessas características.

Um exemplo, porém, chamou atenção. Foi a cidade de Goiânia, representando a região Centro-Oeste. Nela foram visitadas as escolas com o maior e o pior Ideb de toda a série de reportagens.  Porém, houve uma surpresa: a escola de pior Ideb tinha uma boa estrutura, e os professores ganhavam um salário relativamente maior que o da outra escola. Mas o que o especialista constatou é que nessa escola, além de seu problema com a indisciplina dos alunos, há “uma aceitação do fracasso”, tentando “empurrar com a barriga” os estudos. “A gente nota que a escola não tem uma indignação, não está preocupada em resolver esse problema que é crucial da alfabetização na idade certa. Isso acaba gerando indisciplina.” Porém, a escola de maior Ideb (7,1 numa escala de 0 a 10) não tinha uma boa estrutura, e os salários dos professores não eram chamativos. Antes da atual diretora assumir, a prefeitura previa que a escola seria fechada, pelo reduzido número de alunos e péssimos resultados. Entretanto, ela conseguiu virar o jogo: com o uso da concentração, comprometimento e entusiasmo com os alunos, a escola chegou ao nível que chegou, comparada hoje pelo MEC como no nível das de países desenvolvidos.

O relato da professora Amanda Gurgel correu a internet, mostrando apenas uma face do problema, que é a situação com o descaso do governo para com os profissionais da educação. Ela também acusa que quem deveria ter uma certa vigilância para o que está acontecendo fecha os olhos para a verdadeira injustiça que acontece todos os dias, que só chegam a ter relevância em período de greves.

O artigo 205 da nossa Constituição estabelece que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família, será incentivada pela sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o mercado de trabalho. As aplicações práticas disso são muito limitadas, pois se de um lado há um descaso do Estado e da família em sua tarefa de tornar plena a educação daqueles que estão aprendendo numa instituição pública quase falida, também encontramos uma série de escola em que o objetivo não é esse desenvolvimento pleno e exercício da cidadania, mas que o compromisso é tão somente jogar conteúdos e mais conteúdos na cabeça dos alunos, preparando-os das formas mais ridículas possíveis, transformando o “passar em vestibular” em objetivo de vida, quando na verdade ele é um simples meio.

Com todo respeito aos professores, que estão todos os dias nos recintos educacionais, que estão todos os dias vendo o problema de perto e sentindo-o até, tendo eles mais autoridade do que eu para falar sobre o assunto, vejo que o problema da educação é não se preocupar com a sua forma integral; formar não o médico, o jurista, o engenheiro, mas formar a pessoa, formar o cidadão.

A qualidade da educação, como diz a professora, não pode ser associada a colocar professor dentro de sala de aula. Vou além em dizer que também não são só escolas com boa infraestrutura, porque em qualquer um dos casos há o perigo de se ter as escolas como “depósitos de crianças”, um lugar onde os pais depositam as crianças por causa do trabalho, pois essa é a verdadeira preocupação do Estado em períodos de greve.

Além de tudo isso, o Ministério da Educação coloca a disposição livros em que erros gramaticais são vistos como normais, e fala de um tal “preconceito linguístico”. Isso provavelmente vem de uma ideologia incompreensível, que sinceramente não tem resultados práticos. Perguntem isso ao povo do Japão e da Coreia do Sul, que hoje são o que são por investir naquilo que é o essencial para o desenvolvimento do país, que é a educação. E isso a base de disciplina no ensino. Alexandre Garcia, comentarista do Bom Dia Brasil da Globo, compara que, por esses dias, foi preso o presidente do FMI, com o uso de algemas e tudo. E aqui no Brasil, o uso de algemas é limitado, pelo “constrangimento que isso pode causar”. Acho que num caso e no outro, quem realmente vai desenvolver esse “trauma horroroso” são aqueles que podem pagar um bom tratamento psicológico, pois que a maioria da população está sim sujeita a esse “preconceito” e a esse “constrangimento”, independentemente de limitações. O que se quer é nivelar por baixo os alunos, e se for assim, seria melhor fechar todas as escolas, pois a educação aí não pode resolver nada.

Os estudantes precisam conhecer os bons efeitos de uma boa educação. E isso não é difícil, quando há o verdadeiro comprometimento de quem lida com isso todos os dias. A edição da revista Veja de 18 de maio de 2011 nos faz ter alguma esperança, principalmente na área do desenvolvimento educacional que mais revolucionou minha vida: a leitura. Na matéria especial, vemos alguns exemplos de como o hábito da leitura não é um hábito que tende a acabar com a internet, como diversos autores profetizaram: isso tende a se renovar, de maneira especial com o surgimento dos tablets. Além disso, os exemplos retratam que jovens, com a nossa idade ou menos, aprenderam o gosto pela leitura da maneira mais natural possível: pelo que gosta. São muito criticados o que eu chamo de livros-mercadoria, que muitas vezes não tem um conteúdo muito bom e reflexivo, mas também se nota que incutir Machado de Assis para quem não está preparado também não é a solução. A matéria mudou minha forma de ver esses livros, pois eles são sim um bom começo para aquele que realmente é levado a não se contentar com somente aquele tipo de leitura. Um exemplo é que muitos analistas previram que leitores de Harry Potter estariam condenados a serem leitores apenas de livros de Harry Potter. O tempo provou que eles estão errados, e pessoalmente sou exemplo disso, pois que apesar de nunca ter lido Harry Potter, foi a lleitura dessa obra por meu irmão que me incentivou para a leitura. Quem é bem assistido, pode ir se refinando para partir para leituras mais avançadas: De Harry Potter para Os Maias; de Crepúsculo para O Morro dos Ventos Uivantes e Crime e Castigo; D’A Cabana para Cem Anos de Solidão. E isso pessoalmente tenho sentido todos os dias.

É necessária uma renovação no desejo de querer ensinar aos alunos (para não serem mais a-lunos,” sem luz”), e também incutir neles o desejo de saber mais, não com o sentido egoísta de ser “o melhor”, mas de serem melhores pessoas, melhores cidadãos e pessoas que são foco de luz onde se encontram, em meio às trevas que vivemos.


11 de junho de 2011.

OBS: Site com as reportagens completas do JN no Ar - Blitz Educação (http://g1.globo.com/jornal-nacional/jnnoar.html)

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