Qu’est-ce que c’est?
Jefferson Rocha
Pode chegar alguém a me perguntar o que quer dizer esse trambolha aí em cima. Pode me perguntar: “Que porra é essa?” Aí eu respondo: “É exatamente isso!”
Não é uma nova espécie de “churinchurinfuflais” dos anões da história do Chapolim. “Qu’est-ce que c’est?” é uma expressão em francês que quer dizer “O que é isso?”, “O que significa isso?”. Demorei muito para entendê-la, pronunciá-la e escrevê-la. Na pronúncia correta, existem letras nessa frase que para nós, brasileiros, são quase imperceptíveis. É uma frase tão emperiquitada para dizer uma coisa tão simples.
Mas é aí que está o problema: não é tão simples assim.
Definir algo é por os limites de um termo, enunciar seus atributos essenciais e específicos, que o distinguirá de outras coisas. Definir é algo que é da Filosofia, da Lógica... Mas minha insignificância nessas áreas não permite me ater a explicações nesse caráter, muito embora também não procure me ater no “achismo”.
Falo isso principalmente porque, hoje em dia, existem várias controvérsias em temas que somos chamados a julgar, a ter uma posição. Aborto, união homoafetiva, células-tronco, religiões da moda, grupos musicais com novas perspectivas, outros artistas que nem tem tantas novas perspectivas assim... Amigos, família, arte, vida, morte, amor, sofrimento, Deus... Qu’est-ce que c’est?
Somos bombardeados de informações em que, de maneira dissimulada, nos vendem opiniões pré-fabricadas. Também nos coloca dois caminhos totalmente opostos, em que nós devemos escolher exclusivamente um, banindo tudo que venha do outro. Quando nos perguntamos Qu’est-ce que c’est? da maneira que devemos, chegamos a conclusão de que não há apenas dois caminhos, mas vários. O meio-termo de Aristóteles é um exemplo: entre dois vícios, há uma virtude. Por exemplo, entre a covardia e a impulsividade – dois vícios, um é a falta, outro é o excesso - está a coragem – uma virtude.
A questão não é que sempre o meio-termo será a resposta para nossas perguntas. Existem fatos em que nós podemos entender ficar apenas em um dos lados opostos. Mas o diferencial será que, dessa forma, nós seremos assim seres capazes de dialogar com o outro, de entendê-lo. O próprio Deus, que é a Verdade, se dá o trabalho de fazer também isso: “Vinde e discutiremos – diz o Senhor. Ainda que vossos pecados sejam como púrpura, ficarão brancos como a neve. Se forem vermelhos como o carmesim, ficarão como lã.” (Is 1, 18).
Vivemos no mundo de mil filosofias, doutrinas e superstições. Não temos o direito de ter a nossa, que pode ser baseadas nas nossas impressões, ou nossa fé? O importante é estar de paz consigo mesmo, e não desprezar o outro, seja em suas opiniões, seja como ser humano na sua amplitude, pois opiniões maquiavélicas também existem.
Que tenhamos essa oportunidade de refletir melhor nos assuntos que nos são trazidos. Possamos ver a profundidade deles, e nas questões básicas tenhamos a humildade de fazer essa pergunta, que eu em especial, vendo a importância e a particularidade dela, prefiro dizer: Qu’est-ce que c’est?
Finalizo com a velha lenda de um dos maiores perguntadores que existiram: Sócrates. Estava na rua, e passou um homem correndo; após, veio um policial no seu encalço, pois aquele havia assaltado algo. Então perguntou para Sócrates: “Viu o bandido?” Sócrates respondeu: “Pra você, o que é bandido?”
Não sei se o bandido foi preso... Mas o fundamento dessa pergunta devia soar até hoje: Qu’est-ce que c’est? Faríamos julgamentos menos precipitados, sem excluir os outros.
21 de Maio de 2011.
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