Verdadeiro Prefácio
Jefferson Rocha
Olá. Meu nome é Jefferson Fernando Rocha, sou de Dom Pedro, Maranhão, Brasil. Provavelmente você que por ventura esteja lendo este texto me conheça. Então, eu tenho uma excelente notícia para você: com certeza, você não me conhece!
“E o que será isso, meu Deus? Uma ameaça?!” Parabéns pro que provavelmente pensa assim... Você acabou de confirmar o meu pensamento. Mas não é isso... Deixe-me explicar.
Há alguns dias – não sei se você que me adicionou notou... Provavelmente não... – eu exclui o meu perfil no Orkut. Respeitando um caráter bem processual de exclusão – pela morosidade, diga-se “bem brasileiro” : passei uns 30 dias sem visitar a minha conta, sonhando – que anta... - que alguém iria me mandar uma mensagem. Para surpresa até do leitor, eu recebi – faça-se justiça - sim! Duas mensagens!
... Duas mensagens-vírus.
Excluí “de pleno direito”. Bom, então surge a pergunta: exclui apenas por falta de uso, ou porque eu quero me aparecer, “esculhambar dessa classe de gente besta, e que eu sou ‘um herói’ por assim o fazer”? Nem um, nem outro.
Bom, confesso que a principio eu me acharia grande coisa se excluísse o Orkut. “Coisa de gente inteligente”. Mas, pensando um pouco antes de tomar essa decisão, eu fui revendo as impressões que durante esses anos eu vim tendo do Orkut.
O problema não é a plataforma e as intenções da rede social. Sem dúvida, vários avanços sociais meus tiveram lugar no Orkut. Mas quero dividir minhas razões em duas partes. A primeira é a que aparece mais a vista, e a segunda é a mais importante, pois tem um caráter mais geral.
A primeira parte, como já disse, é aquela que a gente vê todos os dias e nota facilmente. Apesar do pouco uso efetivo do Orkut, surpreendi a mim mesmo pelo fato de acessar todos os dias a minha conta. Pra quê? Quem sabe!... Esperança de “pobre” e pensamento de doido: quem é que sabe?...
Saber da vida alheia, talvez. Não tenho muitos meios de saber de fofocas; talvez eu quisesse saber como estava a vida dos outros, mantendo-me oculto. Todavia, o ruim de saber da vida alheia com os olhos das próprias pessoas (leia-se “pessoas orkuteiras” fanáticas) ou por pessoas desautorizadas é que a gente tem contato com todo o tipo de porcaria. Quem nunca abriu o seu perfil, e viu frases-de-perfil com uns “Mô, te dolu”, ou com um bocado de fotos daquele seu ex-colega com um copo de cerveja na mão numa festa se achando o máximo, ou – pior – aquele seu adicionado que parece que joga pedra com a mão esquerda com aquelas fotos em que quase mostra os pelos púbicos, parecendo a Lady Gaga... E as conversas de futuro, em que não se contentam em falar asneiras entre eles, ainda compartilham com os outros? É estressante para nós, tidos em boa conta por normais, conviver com esse tipo de mazela humana. Soma-se a isso a falta de tempo para estar em contato com esse tipo de coisa. Até que limite tive que ficar expostos a saber da vida dos outros? Tentei algumas vezes ajudar pessoas com esse tipo de problema... Mas quem sou eu? Já vi a ingratidão ser divulgada para quem quiser ler, assim como ameaças, e mesmo frases pobres sobre o meu Deus. É um verdadeiro circo.
A segunda é a mais grave. Mais geral, como havia dito. O problema das redes sociais - e me atenho mais ao Orkut – é o fato também de haver pessoas com potencial, respeitadas e esclarecidas com Orkut; afinal, não vivia em tamanho mar de porcaria. O fato é que o Orkut torna a pessoa, mesmo sem o usuário querer, mesquinha, ou pelo menos pobre em expressão. Quanta coisa pra se dizer, quanta coisa pra se falar... Digo em quantidade mesmo... Mesmo que sejam coisas corriqueiras, mas que são importantes na vida dos que dialogam entre si, que não são ditas.
Antes fossem só fatos... E os sentimentos? E aquilo que a pessoa pensa? Será que isso não é tão social quanto uma conversa? É uma tristeza assistir a conversas cada vez mais cheias de frases soltas sem nenhum sentido. Fala-se tanto nos outros, do que aconteceu... que esquece de si mesmo. Quando é exigido, em certo momento da vida, por uma opinião sobre determinado assunto, não é capaz de dar uma resposta dela mesma... Apenas o que pensa fulano de tal (livre-docente em Achismologia pela Universidade Botequinesca de Dom Pedro), ou mesmo buscando validade de pensamentos pobres em opiniões preconcebidas.
Falo assim porque é nesses conceitos vagos sobre as pessoas, principalmente no meu caso, que são formados por frases e mensagens dentro do Orkut. Às vezes, quando o Orkut marca que fulano fez alguma coisa, a gente tenta saber o por quê: o por quê de uma frase, de uma resposta, de uma ação. Ou seja, temos tão pouca base pra formar opiniões que podem mudar a forma com que vemos uma pessoa. É bastante perigoso. O resultado é que nos expressamos mal, levando a outros a desenvolverem a antiga “arte” de interpretar com poucas informações.
Uma pessoa que coloca seu currículo em cento e quarenta caracteres pode ser um bom profissional? Eu não contrataria... E poemas? Pois tem gente que faz pior: expressa o seu dia em menos caracteres que isso. Diz palavras tão importantes sem um contexto, levando ao desenvolvimento de neuróticos, que têm tantas oportunidades de se comunicar na rede, e o fazem com migalhas.
Por isso estou aqui. Esse tanto de baboseira que está aqui - tendo em boa conta que meu leitor leu - expressa o que sinto. Sempre fui tido com homem de poucas palavras, mas descobri que os sentimentos, os problemas do mundo, o próprio mundo em si, são muito ricos para se expressar em apenas poucos caracteres, ou pior, ficar no silêncio. O Deus que está dentro de mim é maior que simples clichês de pastores e padres famosos, ou frases da Bíblia que aparentemente não tem nenhum sentido. Prefiro os que fazem pensar.
Nestas linhas que escrevo assumo o compromisso de sempre que puder, tentarei expressar minhas opiniões e impressões, mas não tenho a pretensão de torná-las definitivas. Mas peço desculpas para o leitor que não me entende... Hoje eu ouvi uma música de Padre Zezinho, um padre que faz a gente verdadeiramente pensar, e uma frase eu achei bastante interessante, e vai servir de lema aqui nesse blog: “É muito jovem a minha oração; talvez não tenha a maturidade, mas tem a verdade do meu coração [...]” Quero aprender todos os dias, o que não vejo como apenas obrigação, mas um direito meu. Quero aprender a ser gente.
Vamos juntos?
20 de Maio de 2011.
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