sábado, 28 de maio de 2011

O maior amor do mundo (28.05.2011) TEXTO


O maior amor do mundo
Jefferson Rocha

Título bastante sugestivo. Pudera: um dos maiores temas da humanidade; não um problema sentido por todos de forma social, mas é uma pergunta quem vem a assaltar a várias pessoas em sua individualidade. Quem nós amamos mais? Será que amo a Deus como eu devia amar? Meu próximo, como mandou Jesus? Meu pai, minha mãe? As pessoas com quem convivemos? Aquela pessoa por quem estamos apaixonados? A nós mesmos?

Uma das classificações, diria uma das mais tradicionais, é dividir a concepção do amor em três, de acordo com a forma de se expressar dos gregos antigos: Eros seria o amor erótico, no sentido de atração física; Philos seria o amor fraternal; e agape o amor benevolente, de desejar o bem ao outro: o amor incondicional. Há importância em se saber o sentido dessas palavras, porque na própria Bíblia há um jogo delas na parte em que Jesus chama Pedro para “apascentar suas ovelhas”, quando Jesus pergunta-lhe se o amava (agape) e ele respondia que ele o amava (philos). Por fim, Pedro respondeu que o amava (agape).

Não gosto muito dessa forma de querer por numa fôrma ideias tão amplas, muito menos uma das maiores delas, que é o amor. Ainda mais levando em consideração apenas simples palavras. Bom lembrar também que o conceito de homem para os gregos não incluía os escravos.

As definições de amor são amplas, e confesso que não é meu objetivo dissertar sobre elas, nem fundar uma nova concepção. O que quero ressaltar é a forma com que fazemos comparações, e como isso implica nas nossas vidas no tocante à liberdade na nossa relação com Deus.

Eu procuro algumas vezes ter contato com histórias e dizeres de pessoas sábias, e que de alguma forma nos levam a melhorar como pessoa, e particularmente no meu caso, como cristão. Assim, tive contato com uma história bastante interessante.

São Jerônimo, para quem não conhece, é aquele que traduziu a Bíblia de suas escritas originais para o latim, conhecida como Vulgata, que é bastante tradicional para a Igreja Católica. Antes disso acontecer, Jerônimo passou 27 anos em uma gruta, conhecida como Gruta de Santa Catarina, logo abaixo da Gruta de Belém, onde - dizem - Jesus havia nascido. Era um rapaz que era rico, mas não tinha paz e queria ser verdadeiramente livre. Vivia de forma ascética; porém não tinha paz. E pedia sempre a Deus a felicidade, a paz... Mas sempre tinha a resposta: “Para isso, você tem que Me entregar aquilo que mais ama”. “O que mais, Senhor?” – perguntava Jerônimo – “Eu já dei tudo a vós! Minha vida, ela é sua; já dei as minhas roupas: me visto da forma mais simples possível; dei minha inteligência: não leio mais nada, a não ser obras que ajudem na minha missão; dei o meu corpo: faço jejum, consagrei minha sexualidade e pratico a castidade; abandonei minha família, deixei todos os meus bens, vivendo uma pobreza extrema... O que o Senhor que mais que eu faça?” “Quero que você me dê aquilo que você mais ama”, era a reposta. E sempre ele se perguntava aquilo que ele mais amava. Depois desses 27 anos, ele descobriu aquilo que mais amava, e entregou a Deus.

Seu pecado.

É uma verdade terrível, que pelo menos na minha vida fez um sentido imenso.

De forma gritante, vemos hoje àqueles que se dizem a procura de Deus. Se for de certas igrejas, aí que é gritante mesmo... Sempre naqueles velhos clichês: “Ah, Senhor! Restaura minha vida! Aleluia!” A pessoa pensa que existe um demônio na sua vida, que a destrói e manda fazer coisas que “ela não quer fazer”. Depois de um “show místico”, em que dizem encontrar e sentir o Espírito Santo, dizem que suas vidas foram restauradas. “Recebeu a promessa!”

Pode ser que esteja fazendo um mau julgamento, mas na verdade não é esse meu objetivo em expor clichês. O que eu quero enfatizar é que esse e eu procuramos aquilo que Jerônimo procurava naquela gruta: Paz e felicidade. E, a nossa maneira, “gritante” ou não, tentamos  –principalmente nós, cristãos - nos iludir que, por uma boa sensação que nós tivemos, nossa vida foi salva, tudo vai ser diferente daquele momento pra frente, e que vamos vencer. “Aleluia!

Pena que não é tão fácil assim; e o próprio Jesus assim nos ensina, quando pede para carregarmos a nossa cruz. Porém, devemos entregar tudo a Ele, e o mais assustador é que também devemos entregar esse amor que queremos esconder de nós mesmos: o amor pelo pecado. Confesso que a priori achei muito pesado utilizarem a palavra amor nesse contexto, nos termos que inicialmente comecei a colocar; mas infelizmente é nesse peso inteiro que deve ser demonstrada essa ideia. Que amor é esse? Será que é um amor maior do que pelas pessoas que convivemos? Do que por nossos pais? Do que por Deus? Enfim, do que por aquilo que nos é mais caro?

Cada um tem a mínima noção daquilo que faz pesar a sua cruz, e quer, tem vontade se livrar disso. Procura por todos os cantos uma forma de fazer isso... Tenta, tenta... Mas não consegue. Por quê? Ora, devemos analisar se não temos um profundo amor pelo nosso erro. O que será que eu fiz, e o que sou capaz de fazer por esse “amor”? Gastar dinheiro? Tempo precioso da minha vida? O meu próprio ser? Ou por em risco aquilo que quero colocar como mais sagrado em minha vida, embora não consiga?

Infelizmente constatei isso, que o pecado me ganha. Minha coragem é pouca. Eu tenho esse amor, que é “sem limites”, como o de Roberto Car... Ah, lembrei de uma piada cretina...

Um casal estava brigando:
-... Você reclama de bucho cheio! Meu amor por você é que nem o de Roberto Carlos por Maria Rita!
-Ah, é? Pois prove!
-Pois morra!


Voltando... Sim, é um amor sem limites... Que quer ver a gente “morta” no final.

Essa constatação, somente a própria pessoa é capaz de fazer, refletindo. Apesar de ser triste essa constatação, é aí que está a esperança. Vamos dar um passo importante para começarmos a ser livres, pois pelo menos diante de Deus, conversando sobre o nosso amor pelo pecado a Ele. Ao sermos francos com Ele, seremos com certeza conosco mesmo.

Entregando esse amor maior do mundo, possamos substituir por aquele Amor que é infinitamente maior que o próprio mundo, e possamos saber amar de fato aqueles que queremos amar, sendo livres e estando em paz.

Que Deus nos abençoe.



28 de Maio de 2011.

domingo, 22 de maio de 2011

Sobre escrever (22.05.2011) TEXTO


Sobre escrever
Jefferson Rocha

Nesses últimos dois dias, tenho produzido textos explicativos sobre questões sobre as quais acho relevante falar. De onde veio esse desejo?

Nesses dias corridos, são raros os momentos que temos para tomar contato com a sabedoria daqueles que de fato são muito importantes de ouvir. Todos têm aquelas pessoas em que se espelham, logo porque nossas ideias, se não são nenhum pouco nossas (o que é grave), provêm desses retalhos de informações a que temos contato todos os dias. Dou graças a Deus pelo fato de, nos últimos tempos, terem essas pessoas sido cristãs atuantes, e que são verdadeiros raios de luz onde estão, no meio das trevas de conhecimento em que somos envolvidos.

Por esses tempos, tenho tomado contato com as músicas de padre Zezinho. Muito antigo. Ele foi o pioneiro da chamada “Música Popular Católica”, que foi um movimento de avivamento da Igreja Católica Romana, procurando quebrar os tabus católicos como de latinização do contato com o sagrado e de músicas sacras como apenas cantos gregorianos. As letras de padre ezinho são bastante inteligentes (diria até que ele é mais um cantor para padres, do que para fiéis leigos), mas a simplicidade é uma marca na obra de padre Zezinho. Muitas das músicas são acompanhadas apenas com um violão, ou instrumentos simples, como gaita. Tudo muito longe do atual cenário gospel que se criou no meio religioso, inclusive na própria Igreja Romana.

Confesso que a simplicidade me atrai. E a obra desse padre também me atraiu, diferentemente de outros padres, pastores ou cantores religiosos comuns, que são verdadeiros artistas, mas que se esquecem da sua vocação e de seu compromisso com a verdade.

A máxima que Padre Zezinho comentou, num diálogo inicial do disco Histórias que eu canto e conto, é a seguinte:


“Às vezes, no buliço do mundo e no vai e vem do cotidiano, é preciso tomar tempo, parar um pouco e deixar que fale o coração. Alguns falam por carta, outros em diários, outros ainda em livros e revistas; e dou graças a Deus porque existe gente que não guarda para si apenas a riqueza de sentimentos que o mundo vai trazendo até eles. Eu nunca sonhei ser cantor nem poeta nem compositor. Quis, e tão somente quero ser gente, cristão e padre! Mas foram os jovens que me disseram que o importante não era um padre Zezinho músico, cantor ou artista, e sim um padre Zezinho que lhes falassem do jeito que eles entendem. E aqui vou eu mais uma vez...”


Durante meu processo educacional, não fiz muitos textos. Poucos foram os que eu fiz, e no último deles, no Ensino Médio, ganhei um prêmio em projeção nacional. Pode ser que esse fato exigia que meus textos devessem ser excelentes, histórias com as mais sofisticadas tramas, e conclusões surpreendentes. Nos últimos anos, depois do prêmio, escrevi pouco, confirmando uma ideia de que escrevia apenas sob pressão.

Nessa introdução do Padre Zezinho, comecei a refletir mais sobre o que é escrever. Durante o meu Ensino Médio, tivemos muito contato com “definições de arte”, “requisitos impreteríveis para que algo seja considerado arte”. “Escrever não é pra qualquer um: há risco de escrever porcaria”. Em suma: “Todos podem ser bons leitores, mas poucos bons escritores”.
 
Resultado desse pensamento: poucos leitores, menos ainda escritores.

A inovação do pensamento de padre Zezinho na minha mente foi o fato de me mostrar novamente o porquê de fazer textos. Como ele, eu não quero ser um escritor famoso, merecedor de um Nobel em Literatura. Eu só quero ser gente; eu quero só ser cristão. Quero expressar o que o meu coração fala: sentimentos, inquietudes perante o mundo, palavras que não passam.

Não vejo o escrever como uma obrigação: vejo como um direito. Não tenho a pretensão de pensar que meus textos serão lidos por milhares de pessoas; não preciso falsear o que sinto, enfeitar para tornar meu texto “comercializável”. Também não tenho a pretensão de tornar meu texto algo do mais puro elitismo cultural, que é algo tão cansativo que não toca aqueles quem deveria tocar. É bom deixar claro que também isso não dá direito de nos condenarmos a um achismo eterno, mas justamente vamos cumprir o desejo de Deus, que o cristão verdadeiro deve seguir: não se conformar com este mundo e a termos a contínua renovação de nossas mentes (Rm 12, 2).

No meu texto Verdadeiro Prefácio, comentei com uma rede social atrofia as mentes, inclusive pela falta de um desenvolvimento racional de nossas ideias. Que possamos mostrar para os outros as nossas ideias. Que possamos ter a oportunidade de estabelecer algo sobre o que discutir, algo que vem de nós mesmo. É tão estimulante ter contato com as ideias de pessoas que conhecemos, que admiramos, que amamos. Há tantas, tantas ideias para compartilhar com os outros!

O melhor benefício de expor nossas ideias é que nós temos a oportunidade de dialogar conosco, nos conhecer. Vai nos tornar inquietos, o que nos levará a cada dia queremos ter melhores fontes de conhecimento.

Na minha opinião, como disse, escrever não é obrigação, um compromisso com o mais elitizado pensamento. É sim um direito nosso, de termos a oportunidade de nos conhecer e de nos fazermos conhecidos.

22 de Maio de 2011.

sábado, 21 de maio de 2011

Qu'est-ce que c'est? (21.05.2011) TEXTO

Qu’est-ce que c’est?
Jefferson Rocha

Pode chegar alguém a me perguntar o que quer dizer esse trambolha aí em cima. Pode me perguntar: “Que porra é essa?” Aí eu respondo: “É exatamente isso!”

Não é uma nova espécie de “churinchurinfuflais” dos anões da história do Chapolim. “Qu’est-ce que c’est?” é uma expressão em francês que quer dizer “O que é isso?”, “O que significa isso?”. Demorei muito para entendê-la, pronunciá-la e escrevê-la. Na pronúncia correta, existem letras nessa frase que para nós, brasileiros, são quase imperceptíveis. É uma frase tão emperiquitada para dizer uma coisa tão simples.

Mas é aí que está o problema: não é tão simples assim.

Definir algo é por os limites de um termo, enunciar seus atributos essenciais e específicos, que o distinguirá de outras coisas. Definir é algo que é da Filosofia, da Lógica... Mas minha insignificância nessas áreas não permite me ater a explicações nesse caráter, muito embora também não procure me ater no “achismo”.
Falo isso principalmente porque, hoje em dia, existem várias controvérsias em temas que somos chamados a julgar, a ter uma posição. Aborto, união homoafetiva, células-tronco, religiões da moda, grupos musicais com novas perspectivas, outros artistas que nem tem tantas novas perspectivas assim... Amigos, família, arte, vida, morte, amor, sofrimento, Deus... Qu’est-ce que c’est?

Somos bombardeados de informações em que, de maneira dissimulada, nos vendem opiniões pré-fabricadas. Também nos coloca dois caminhos totalmente opostos, em que nós devemos escolher exclusivamente um, banindo tudo que venha do outro. Quando nos perguntamos Qu’est-ce que c’est? da maneira que devemos, chegamos a conclusão de que não há apenas dois caminhos, mas vários. O meio-termo de Aristóteles é um exemplo: entre dois vícios, há uma virtude. Por exemplo, entre a covardia e a impulsividade – dois vícios, um é a falta, outro é o excesso - está a coragem – uma virtude.

A questão não é que sempre o meio-termo será a resposta para nossas perguntas. Existem fatos em que nós podemos entender ficar apenas em um dos lados opostos. Mas o diferencial será que, dessa forma, nós seremos assim seres capazes de dialogar com o outro, de entendê-lo. O próprio Deus, que é a Verdade, se dá o trabalho de fazer também isso: “Vinde e discutiremos – diz o Senhor. Ainda que vossos pecados sejam como púrpura, ficarão brancos como a neve. Se forem vermelhos como o carmesim, ficarão como lã.” (Is 1, 18).

Vivemos no mundo de mil filosofias, doutrinas e superstições. Não temos o direito de ter a nossa, que pode ser baseadas nas nossas impressões, ou nossa fé? O importante é estar de paz consigo mesmo, e não desprezar o outro, seja em suas opiniões, seja como ser humano na sua amplitude, pois opiniões maquiavélicas também existem.

Que tenhamos essa oportunidade de refletir melhor nos assuntos que nos são trazidos. Possamos ver a profundidade deles, e nas questões básicas tenhamos a humildade de fazer essa pergunta, que eu em especial, vendo a importância e a particularidade dela, prefiro dizer: Qu’est-ce que c’est?

Finalizo com a velha lenda de um dos maiores perguntadores que existiram: Sócrates. Estava na rua, e passou um homem correndo; após, veio um policial no seu encalço, pois aquele havia assaltado algo. Então perguntou para Sócrates: “Viu o bandido?” Sócrates respondeu: “Pra você, o que é bandido?”

Não sei se o bandido foi preso... Mas o fundamento dessa pergunta devia soar até hoje: Qu’est-ce que c’est? Faríamos julgamentos menos precipitados, sem excluir os outros.

21 de Maio de 2011.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Verdadeiro Prefácio (20.05.2011) TEXTO


Verdadeiro Prefácio
Jefferson Rocha

Olá. Meu nome é Jefferson Fernando Rocha, sou de Dom Pedro, Maranhão, Brasil. Provavelmente você que por ventura esteja lendo este texto me conheça. Então, eu tenho uma excelente notícia para você: com certeza, você não me conhece!

“E o que será isso, meu Deus? Uma ameaça?!” Parabéns pro que provavelmente pensa assim... Você acabou de confirmar o meu pensamento. Mas não é isso... Deixe-me explicar.

Há alguns dias – não sei se você que me adicionou notou... Provavelmente não... – eu exclui o meu perfil no Orkut. Respeitando um caráter bem processual de exclusão – pela morosidade, diga-se “bem brasileiro” : passei uns 30 dias sem visitar a minha conta, sonhando – que anta... - que alguém iria me mandar uma mensagem.  Para surpresa até do leitor, eu recebi – faça-se justiça - sim! Duas mensagens!

... Duas mensagens-vírus.

Excluí “de pleno direito”. Bom, então surge a pergunta: exclui apenas por falta de uso, ou porque eu quero me aparecer, “esculhambar dessa classe de gente besta, e que eu sou ‘um herói’ por assim o fazer”? Nem um, nem outro.

Bom, confesso que a principio eu me acharia grande coisa se excluísse o Orkut. “Coisa de gente inteligente”. Mas, pensando um pouco antes de tomar essa decisão, eu fui revendo as impressões que durante esses anos eu vim tendo do Orkut.

O problema não é a plataforma e as intenções da rede social. Sem dúvida, vários avanços sociais meus tiveram lugar no Orkut. Mas quero dividir minhas razões em duas partes. A primeira é a que aparece mais a vista, e a segunda é a mais importante, pois tem um caráter mais geral.

A primeira parte, como já disse, é aquela que a gente vê todos os dias e nota facilmente. Apesar do pouco uso efetivo do Orkut, surpreendi a mim mesmo pelo fato de acessar todos os dias a minha conta. Pra quê? Quem sabe!... Esperança de “pobre” e pensamento de doido: quem é que sabe?...

Saber da vida alheia, talvez. Não tenho muitos meios de saber de fofocas; talvez eu quisesse saber como estava a vida dos outros, mantendo-me oculto. Todavia, o ruim de saber da vida alheia com os olhos das próprias pessoas (leia-se “pessoas orkuteiras” fanáticas) ou por pessoas desautorizadas é que a gente tem contato com todo o tipo de porcaria. Quem nunca abriu o seu perfil, e viu frases-de-perfil com uns “Mô, te dolu”, ou com um bocado de fotos daquele seu ex-colega com um copo de cerveja na mão numa festa se achando o máximo, ou – pior – aquele seu adicionado que parece que joga pedra com a mão esquerda com aquelas fotos em que quase mostra os pelos púbicos, parecendo a Lady Gaga... E as conversas de futuro, em que não se contentam em falar asneiras entre eles, ainda compartilham com os outros? É estressante para nós, tidos em boa conta por normais, conviver com esse tipo de mazela humana. Soma-se a isso a falta de tempo para estar em contato com esse tipo de coisa. Até que limite tive que ficar expostos a saber da vida dos outros? Tentei algumas vezes ajudar pessoas com esse tipo de problema... Mas quem sou eu? Já vi a ingratidão ser divulgada para quem quiser ler, assim como ameaças, e mesmo frases pobres sobre o meu Deus. É um verdadeiro circo.

A segunda é a mais grave. Mais geral, como havia dito. O problema das redes sociais - e me atenho mais ao Orkut – é o fato também de haver pessoas com potencial, respeitadas e esclarecidas com Orkut; afinal, não vivia em tamanho mar de porcaria. O fato é que o Orkut torna a pessoa, mesmo sem o usuário querer, mesquinha, ou pelo menos pobre em expressão. Quanta coisa pra se dizer, quanta coisa pra se falar... Digo em quantidade mesmo... Mesmo que sejam coisas corriqueiras, mas que são importantes na vida dos que dialogam entre si, que não são ditas.

Antes fossem só fatos... E os sentimentos? E aquilo que a pessoa pensa? Será que isso não é tão social quanto uma conversa? É uma tristeza assistir a conversas cada vez mais cheias de frases soltas sem nenhum sentido. Fala-se tanto nos outros, do que aconteceu... que esquece de si mesmo. Quando é exigido, em certo momento da vida, por uma opinião sobre determinado assunto, não é capaz de dar uma resposta dela mesma... Apenas o que pensa fulano de tal (livre-docente em Achismologia pela Universidade Botequinesca de Dom Pedro), ou mesmo buscando validade de pensamentos pobres em opiniões preconcebidas.
Falo assim porque é nesses conceitos vagos sobre as pessoas, principalmente no meu caso, que são formados por frases e mensagens dentro do Orkut. Às vezes, quando o Orkut marca que fulano fez alguma coisa, a gente tenta saber o por quê: o por quê de uma frase, de uma resposta, de uma ação. Ou seja, temos tão pouca base pra formar opiniões que podem mudar a forma com que vemos uma pessoa. É bastante perigoso. O resultado é que nos expressamos mal, levando a outros a desenvolverem a antiga “arte” de interpretar com poucas informações.

Uma pessoa que coloca seu currículo em cento e quarenta caracteres pode ser um bom profissional? Eu não contrataria... E poemas? Pois tem gente que faz pior: expressa o seu dia em menos caracteres que isso. Diz palavras tão importantes sem um contexto, levando ao desenvolvimento de neuróticos, que têm tantas oportunidades de se comunicar na rede, e o fazem com migalhas.

Por isso estou aqui. Esse tanto de baboseira que está aqui - tendo em boa conta que meu leitor leu - expressa o que sinto. Sempre fui tido com homem de poucas palavras, mas descobri que os sentimentos, os problemas do mundo, o próprio mundo em si, são muito ricos para se expressar em apenas poucos caracteres, ou pior, ficar no silêncio. O Deus que está dentro de mim é maior que simples clichês de pastores e padres famosos, ou frases da Bíblia que aparentemente não tem nenhum sentido. Prefiro os que fazem pensar.

 Nestas linhas que escrevo assumo o compromisso de sempre que puder, tentarei expressar minhas opiniões e impressões, mas não tenho a pretensão de torná-las definitivas. Mas peço desculpas para o leitor que não me entende... Hoje eu ouvi uma música de Padre Zezinho, um padre que faz a gente verdadeiramente pensar, e uma frase eu achei bastante interessante, e vai servir de lema aqui nesse blog: “É muito jovem a minha oração; talvez não tenha a maturidade, mas tem a verdade do meu coração [...]” Quero aprender todos os dias, o que não vejo como apenas obrigação, mas um direito meu. Quero aprender a ser gente. 

Vamos juntos?

20 de Maio de 2011.