domingo, 22 de maio de 2011

Sobre escrever (22.05.2011) TEXTO


Sobre escrever
Jefferson Rocha

Nesses últimos dois dias, tenho produzido textos explicativos sobre questões sobre as quais acho relevante falar. De onde veio esse desejo?

Nesses dias corridos, são raros os momentos que temos para tomar contato com a sabedoria daqueles que de fato são muito importantes de ouvir. Todos têm aquelas pessoas em que se espelham, logo porque nossas ideias, se não são nenhum pouco nossas (o que é grave), provêm desses retalhos de informações a que temos contato todos os dias. Dou graças a Deus pelo fato de, nos últimos tempos, terem essas pessoas sido cristãs atuantes, e que são verdadeiros raios de luz onde estão, no meio das trevas de conhecimento em que somos envolvidos.

Por esses tempos, tenho tomado contato com as músicas de padre Zezinho. Muito antigo. Ele foi o pioneiro da chamada “Música Popular Católica”, que foi um movimento de avivamento da Igreja Católica Romana, procurando quebrar os tabus católicos como de latinização do contato com o sagrado e de músicas sacras como apenas cantos gregorianos. As letras de padre ezinho são bastante inteligentes (diria até que ele é mais um cantor para padres, do que para fiéis leigos), mas a simplicidade é uma marca na obra de padre Zezinho. Muitas das músicas são acompanhadas apenas com um violão, ou instrumentos simples, como gaita. Tudo muito longe do atual cenário gospel que se criou no meio religioso, inclusive na própria Igreja Romana.

Confesso que a simplicidade me atrai. E a obra desse padre também me atraiu, diferentemente de outros padres, pastores ou cantores religiosos comuns, que são verdadeiros artistas, mas que se esquecem da sua vocação e de seu compromisso com a verdade.

A máxima que Padre Zezinho comentou, num diálogo inicial do disco Histórias que eu canto e conto, é a seguinte:


“Às vezes, no buliço do mundo e no vai e vem do cotidiano, é preciso tomar tempo, parar um pouco e deixar que fale o coração. Alguns falam por carta, outros em diários, outros ainda em livros e revistas; e dou graças a Deus porque existe gente que não guarda para si apenas a riqueza de sentimentos que o mundo vai trazendo até eles. Eu nunca sonhei ser cantor nem poeta nem compositor. Quis, e tão somente quero ser gente, cristão e padre! Mas foram os jovens que me disseram que o importante não era um padre Zezinho músico, cantor ou artista, e sim um padre Zezinho que lhes falassem do jeito que eles entendem. E aqui vou eu mais uma vez...”


Durante meu processo educacional, não fiz muitos textos. Poucos foram os que eu fiz, e no último deles, no Ensino Médio, ganhei um prêmio em projeção nacional. Pode ser que esse fato exigia que meus textos devessem ser excelentes, histórias com as mais sofisticadas tramas, e conclusões surpreendentes. Nos últimos anos, depois do prêmio, escrevi pouco, confirmando uma ideia de que escrevia apenas sob pressão.

Nessa introdução do Padre Zezinho, comecei a refletir mais sobre o que é escrever. Durante o meu Ensino Médio, tivemos muito contato com “definições de arte”, “requisitos impreteríveis para que algo seja considerado arte”. “Escrever não é pra qualquer um: há risco de escrever porcaria”. Em suma: “Todos podem ser bons leitores, mas poucos bons escritores”.
 
Resultado desse pensamento: poucos leitores, menos ainda escritores.

A inovação do pensamento de padre Zezinho na minha mente foi o fato de me mostrar novamente o porquê de fazer textos. Como ele, eu não quero ser um escritor famoso, merecedor de um Nobel em Literatura. Eu só quero ser gente; eu quero só ser cristão. Quero expressar o que o meu coração fala: sentimentos, inquietudes perante o mundo, palavras que não passam.

Não vejo o escrever como uma obrigação: vejo como um direito. Não tenho a pretensão de pensar que meus textos serão lidos por milhares de pessoas; não preciso falsear o que sinto, enfeitar para tornar meu texto “comercializável”. Também não tenho a pretensão de tornar meu texto algo do mais puro elitismo cultural, que é algo tão cansativo que não toca aqueles quem deveria tocar. É bom deixar claro que também isso não dá direito de nos condenarmos a um achismo eterno, mas justamente vamos cumprir o desejo de Deus, que o cristão verdadeiro deve seguir: não se conformar com este mundo e a termos a contínua renovação de nossas mentes (Rm 12, 2).

No meu texto Verdadeiro Prefácio, comentei com uma rede social atrofia as mentes, inclusive pela falta de um desenvolvimento racional de nossas ideias. Que possamos mostrar para os outros as nossas ideias. Que possamos ter a oportunidade de estabelecer algo sobre o que discutir, algo que vem de nós mesmo. É tão estimulante ter contato com as ideias de pessoas que conhecemos, que admiramos, que amamos. Há tantas, tantas ideias para compartilhar com os outros!

O melhor benefício de expor nossas ideias é que nós temos a oportunidade de dialogar conosco, nos conhecer. Vai nos tornar inquietos, o que nos levará a cada dia queremos ter melhores fontes de conhecimento.

Na minha opinião, como disse, escrever não é obrigação, um compromisso com o mais elitizado pensamento. É sim um direito nosso, de termos a oportunidade de nos conhecer e de nos fazermos conhecidos.

22 de Maio de 2011.

3 comentários:

  1. Gostaria de comentar que ofereço esse texto para o meu amigo Rodrigo, que compreendeu o que eu exponho neste texto. Parabéns pela sua iniciativa, e que aquele seja o primeiro de muitos textos, e como disse, que eu tenha a oportuniddade de te conhecer melhor, e ainda mais de você conhecer a si mesmo.
    Abração!

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  2. Parabéns!
    Eu estava justamente procurando esse trecho do Padre Zezinho e me deparei com seu texto.
    Sábias palavras.
    De alguém que ousa participar desse universo: a palavra escrita.

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